Molching, cidade fictícia da Alemanha

Sobre o filme A menina que roubava livros

Por: Adriana Aguiar Ribeiro

Ontem tive a oportunidade de ver no cinema o filme A Menina que Roubava Livros, estreado no último dia trinta e um e baseado no livro de mesmo título. Estava ansiosa pela estreia do filme, já que gostei muito da literatura. O filme, ao contrário de muitas produções baseadas em obras literárias, não decepcionou. Conseguiu reproduzir de forma fiel a narrativa de Markus Zusak em sua obra original. É um filme triste, assim como o livro. E não poderia ser diferente, quando a história é contada pela morte, sob sua ótica. Curiosamente a cidade de Molching, onde se desenrola a trama, é fictícia. Talvez inspirada em Olching, cidade alemã próxima ao campo de concentração de Dachau. E a bomba que destruiu o bairro de Liesel, personagem principal, foi inspirada em muitas outras bombas, destinadas às fábricas, depósitos de munições e outros, que por erros de cálculos atingiram bairros residenciais, na segunda guerra mundial.

O filme, além de bem produzido, cumpre também a função de lembrar a vertiginosa carnificina que foi o Holocausto, baseado em uma tradição antissemitista que ganhava força na cultura ocidental, perpetrado pela Alemanha Nazista, exterminando aproximadamente 6 milhões de judeus, na segunda Guerra Mundial. Nunca é demais recordar os horrores e as marcas indeléveis causados pelas guerras.

Por isso, considero que a crítica ao filme feita ontem (01) e hoje no Segundo Caderno do Jornal O Globo, não deve ser levada tão a sério. André Miranda* classifica o filme como drama e faz a seguinte crítica ao filme: "É o tipo de produção 'feita para chorar' ". O bonequinho do Globo dorme sentado em sua poltrona.  Suponho que o crítico não deve ter lido o livro do autor acolhido com críticas radiosas nas revistas Publishers Weekly, School Library Journal, KLIATT, The Bulletin e Booklist, ao classificar a narrativa na tela como a pior possível. Não sou crítica, por isso não vale a opinião de que gostei do filme. Mas tenho certeza que há produções muito piores onde os críticos aplaudem de pé, com o seu bonequinho. Talvez o comentário crítico  tenha sido  pouco responsável e fundamentado.

Segundo Mario Vargas Llosa, em A civilização do espetáculo, "o certo é que a crítica, que na época dos nossos avós e bisavós desempenhava papel fundamental no mundo da cultura por assessorar os cidadãos na difícil tarefa de julgar o que ouviam, viam e liam, hoje é uma espécie em extinção à qual ninguém faz caso, salvo
quando se transforma também ela, em diversão e espetáculo. (...) O vazio deixado pelo desaparecimento da crítica (...) antes desempenhada, nesse âmbito, por sistemas filosóficos, crenças religiosas, ideologias e doutrinas, bem como por aqueles mentores que na França eram conhecidos por mandarins de uma época, hoje é exercida pelos anônimos (...). Quando uma cultura relega o exercício de pensar ao desvão das coisas fora de moda e substitui ideias por imagens, os produtos literários e artísticos são promovidos, aceitos ou rejeitados pelas técnicas publicitárias e pelos reflexos condicionados de um público que carece de defesas intelectuais e sensíveis para detectar os contrabandos e as extorsões de que é vítima." Em sua obra o autor dá a impressão de que a crítica não é mais levada a sério nos dias atuais, assim como é exercida de forma irresponsável pelos profissionais da área.

*É Jornalista e crítico de cinema do jornal O Globo. Trabalhou como professor de vídeo para adolescentes moradores da Rocinha por dois anos, onde produziu e dirigiu documentários com a participação dos jovens. Mas quase ninguém os viu. Também fez vídeos com moradores de rua da Lapa, igualmente desconhecidos. Perfil de André Miranda extraído da página online da Associação de Críticos de Cinema do Rio de janeiro - ACCRJ, da qual é membro.

Comentários

  1. Eu li o livro, embora o desenrolar seja em uma cidade ficticia, o livro vem relembrar os horrores da guerra e da intolerância, por isso gostei, ainda não tive a oportunidade de assistir o filme. obrigado ,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá! Obrigada por compartilhar suas ideias e experiências aqui no Viajando com Puny. O filme está muito legal também. Apesar de achar que o livro é sempre melhor, neste caso, o filme é bem fiel ao relato do livro! Recomendo! Um abraço, Puny

      Excluir
  2. Terminei de ler o livro e corri para ver o filme. Apesar de pequenas modificações em relação ao original, o filme retrata verdadeiramente o conteúdo do livro que é espetacular e triste, muito triste. No livro você chora. E no filme também.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O livro e o filme são muito bons! Agradeço sua visita aqui no blog. Um abraço, Adriana

      Excluir
  3. acabei de ler o livro.espetacular....triste...mas bem realista,considerando que o narrador é abstrato.Faz a gente pensar no profundo do ser humano.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O que você achou desta matéria? Compartilhe aqui sua experiência com outros leitores!

Postagens mais visitadas deste blog

Campos do Jordão, a cidade mais alta do Brasil

O que fazer em Mambucaba - passamos o Ano Novo por lá!

Bate-volta de Paris à Luxemburgo