Birdwatching no Equador - roteiro completo
Por: Lúcia Rogers
Viajamos do Rio de Janeiro para Quito, que é bem charmosa, principalmente a parte antiga. Um pouco alta para meu gosto, mas, depois de algumas xícaras de chá de coca, deu para encarar o cansaço, desde que procurasse caminhar sem correrias. Ficamos no Hotel Fuente de Piedras 2, no bairro turístico de la Mariscal. O pessoal da recepção era muito amável, mas as instalações fraquinhas: alguns quartos sem janelas e um pouco de cheiro de mofo. As frutas no café da manhã eram cobradas a parte. O hotel ficava muito perto da Praça Foch, que é bem badalada. Os arredores do hotel, à noite, dão um pouco de receio, já que tem alguns inferninhos pelas redondezas.
Na metade do mundo |
No segundo dia resolvemos visitar o Vulcão Pululahua. Para mim, foi meio decepcionante: um buracão, cheio de construções e plantações. Depois fomos à "metade do Mundo". Onde passa a Linha do Equador. Há um Museu sobre os primitivos habitantes da região e lá se participa ainda de algumas experiências relacionadas ao efeito de Coriolis, como a água que escoa em diferentes direções, dependendo do hemisfério, e, cai direto na linha do Equador. Várias pessoas conseguiam botar um ovo em pé sobre uma cabeça de prego (não entendi direito porque isso é possível ali). Vou pesquisar, ainda sobre isso. Nós não conseguimos botar o tal ovo em pé! Mas, caminhamos emocionados sobre a linha do Equador e fizemos fotos com um pé no hemisfério Norte e o outro no Sul. Coisas de turistas! Alessandro e Isabel ainda visitaram o bairro La Ronda e uma Igreja fundada pelos jesuítas no século XVII, segundo eles, uma maravilha, toda em ouro.
Veadinhos |
No terceiro dia, fomos conhecer o Vulcão Cotopaxi. Já a viagem para lá vale a pena! Vimos algumas aves e um veadinho lindo, com a mãe. O Vulcão tem um visual de tirar o fôlego. Todo escuro, coroado de neve que desce também pelas encostas. Fomos de táxi, é claro, e depois pegamos o quatro rodas do parque, até alcançarmos a altitude de 4.500 metros. Alessandro resolveu encarar mais uma parte da subida a pé, com o guia. Nós ficamos no carro, morrendo de frio e de vontade de fazer xixi. Depois de umas três horas, Alessandro surgiu descendo a encosta, parecendo um avestruz em dança de acasalamento. Todo descoordenado, parecia bêbado. Na hora ficamos apavoradas, mas, depois, o episódio nos rendeu boas gargalhadas durante toda a viagem.
Diglossa Cyanea: refrescando-se em um "frio de pinguim" |
No quarto dia o nosso guia Olger (EXCELENTE) e o motorista Teófilo nos apanharam no hotel, às 6h30min, numa grande e confortável Van e fomos para Yanacocha, a 3.700m de altitude. Vimos muitos beija-flores (entre eles o famoso bico de espada) e aves lindas, muito coloridas. Lanchamos pelo caminho e fomos para a Pousada Alambi: comedouro e bebedouros para milhares de beija-flores. As refeições foram servidas na varanda. A gente não sabia nem o que estava comendo, porque a atenção era toda para as aves. Acho que a comida era gostosa. Rsrsrs. São só três quartos nessa Pousada. Um grande, com banheiro, e dois menores, com banheiro no corredor. Nos menores, o cheirinho de mofo é inevitável! Muita umidade!
No quinto dia, muitas caminhadas, muitas aves (tucanos, araçaris, surucuás, endemismos) e muuuuitos beija-flores (um com umas raquetinhas no rabo, um sonho)!
70 anos: melhor aniversário da vida |
No sexto dia, saímos às 5h, ainda escuro e com muita chuva. Pegamos uma trilha no meio do mato para ir ao local onde se reúnem, em arena, bem cedo, os galos-da-rocha. Lindos e ariscos! Parados, imóveis debaixo de chuva, aguardamos a chegada deles. Um espetáculo! Mas, rápido, chegam, dão seu showzinho e se vão. Fomos, depois, à Reserva Particular Paz de las Aves. O dono mantém um bom relacionamento com algumas gralárias. Chega à beirada da mata e começa a chamá-las. Depois de algum tempo, elas aparecem, pegam as minhocas que ele joga, e somem novamente. Mas dá para vê-las bem. Outras vêm atrás da banana que ele coloca na boca do mato. Também aparecem muito rápido e somem. Mas é um espetáculo! Nesse dia, com tantos presentes maravilhosos, e em meio a um enxame de beija-flores, na Alambi,"cravei" os meus 70 anos, com direito a bolo e parabéns, surpresa que me prepararam os amigos Isabel, Claudia e Alessandro. Um dos melhores aniversários de minha vida!
Depois, partimos para San Miguel de los Bancos e nos instalamos no Hotel Mirador Rio Blanco, que tem uma vista espetacular para o rio em meio às montanhas. Mais uma vez, eu e Alessandro pegamos um apartamento com dois quartinhos pequenos, um deles insuportavelmente mofado. Tive que me mudar para o apartamento das meninas que tinha três quartos. Mas um banheiro só, para três mulheres. Já viu! Tive que ficar usando o banheiro do apartamento de Alessandro. Mas deu tudo certo. E a comida desse hotel é gostosíssima!
Eubucco Bourcierii |
Fomos também à Reserva Santuário das Aves Rio Silanche, onde há uma torre de observação onde dá para ver ainda muitas espécies.
No dia seguinte, voltamos ao Aeroporto de Quito. Estrada linda, (ainda se vê, ao longe, vários Vulcões) mas estrada perigosa, com muitas curvas e motoristas imprudentes. No Aeroporto, pegamos um voo de meia hora para Coca, para irmos para a Amazônia. Chegamos num calor infernal e Coca lembra um suburbão da pesada, do Rio.
Daí, fomos até o cais e pegamos uma "voadeira"(duas horas e meio pelo rio Napo) até o píer do Sani Lodge. Descemos e caminhamos por uma passarela de madeira, em meio à mata, por mais ou menos quinze minutos, morrendo de calor e já devidamente besuntados por repelente até a alma, pois a mosquitada estava feroz.
Chegamos a um novo píer e então embarcamos numa canoa a remo, mais uns quinze minutos e chegamos ao Sani Lodge.
De voadeira mata adentro |
Chegando de canoa ao Sani Lodge |
Recepcionados pelo Vitor, o gerente do Lodge, e uma bandeja com belisquetes, um coquetel de maracujá e toalhinhas úmidas para que nos refrescássemos. Ah! Também o Guilhermo veio nos recepcionar (um jacamim que mora no Lodge, manso como um cachorrinho e louco por um cafuné). O Lodge pertece a uma tribo da região, que permitiu a exploração de Petróleo em parte de suas terras, em troca da construção e preparação do pessoal para administrá-lo: cursos de hotelaria, cozinha, inglês e etc. Só os índios dessa tribo trabalham lá. Finíssimos, educadíssimos, todos falam inglês. Todas as edificações são em forma de ocas, tetos trançados de palha e bambu, Guilhermo: manso como um cachorrinho |
Nesse paraíso, fizemos vários passeios de canoa e nas trilhas por meio da mata. Subimos numa torre com quarenta e cinco metros de altura e duzentos e dois degraus. Mas valeu o esforço! De saída, lá em cima, numa árvore bem perto, dormia um mãe-da-lua gigante. Sem falar nos tucanos, papagaios, araras e etc, etc e etc.
Guloseimas na folha de bananeira |
Num dos dias fomos visitar a tribo. Almoço típico: no chão, sobre folha de bananeira. Guloseimas: peixe com palmito assado na folha de bananeira, aipim, banana assada, sementes de cacau no espeto e... a larva de um besouro de palmeira, também no espeto. Ou, como vimos a índia que nos serviu comendo, a larva viva, crua. O Alessandro quis provar e se deliciou. Diz ele que era muito boa. Eu não quis nem olhar muito! Bebemos (ou provamos) chicha, bebida à base de mandioca fermentada, com batata-doce. Para encerrar com chave de ouro, no último dia, vimos a Harpia (meu grande sonho de consumo), bem perto. Podia querer mais?
Índia comendo larva viva |
Na volta, no Aeroporto em Quito, malas já despachadas, ouvimos nossos nomes chamados pelo alto-falante: Alessandro, Claudia e eu convocados para vistoria de bagagem. Fomos levados, um funcionário à frente, abrindo as portas com cartões magnéticos e outro na retaguarda, para "os porões" do Aeroporto. Ao fundo, uma cacofonia de latidos. Devia haver uma matilha de cães por lá. Abriram mala por mala e revistaram tudo. Será que temos cara de
traficantes ou os cães se mostraram excitadíssimos quando se depararam com a "catinga braba" que se exalava de nossas malas entulhadas de roupa suja, depois de onze dias de viagem? Sei lá! Isabel, que não foi chamada, ficou lá em cima, com nossa bagagem de mão e nervosíssima, pois demoramos a voltar. Mas no fim, entre mortos e feridos, salvaram-se todos e acabamos dando boas risadas com o acontecido.
traficantes ou os cães se mostraram excitadíssimos quando se depararam com a "catinga braba" que se exalava de nossas malas entulhadas de roupa suja, depois de onze dias de viagem? Sei lá! Isabel, que não foi chamada, ficou lá em cima, com nossa bagagem de mão e nervosíssima, pois demoramos a voltar. Mas no fim, entre mortos e feridos, salvaram-se todos e acabamos dando boas risadas com o acontecido.
Bem, amigo leitor, vou parando por aqui pois você já deve estar exausto com tanta escrevinhação! Fui capaz de me lembrar de tantos detalhes porque, durante toda a viagem fomos escrevendo uma espécie de diário a quatro mãos, e a Isabel passou a limpo e mandou uma cópia para cada um de nós.
Se tiver oportunidade, não deixe de ir conhecer o Equador. Vale a pena. Fomos através da JUNGLE BIRDERS TOURS, seguindo as dicas de uma amiga. Se precisar de mais alguma dica, é só deixar no espaço para comentários deste post, que responderemos.
Você poderá gostar também de ler sobre Birdwatching em Urupema.
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Que emocionante! Principalmente para quem sabe apreciar este mundão cheio de maravilhas.
ResponderExcluirQue delícia! Quanta curiosidade, quanta vida! Amei! Deu vontade de ir também. Quem sabe um dia um passeião em família?
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